segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SEM PERSONAGENS


Eu devo confessar que às vezes tenho a impressão de que quando o Criador me
pôs aqui na Terra tudo foi como uma grande peça de teatro que acabara de começar.
Uma grande peça, como um elenco interminável de pessoas que passam por minha vida.
Alguns grandes atores, pois sabiam interpretar muito bem, escondendo suas verdadeiras intenções.
Só que suas arrogâncias e estrelismos falam muito alto, tornando-os insuportáveis.
Outros, com os que criei afeição, não deixavam de ser grandes artistas, pelo contrário,
eram tão bons que decidi seguir seus passos no palco da vida,
e desses escolhi aprender a aprimorar diariamente as virtudes.
Entre esses dons virtuosos estavam o amor, a amizade, a fé, a empatia e a coragem.
Me inspirei neles: foram minhas referências, meus ídolos.
Porém, confesso que não consigo ser estrela, não consigo interpretar no Grand Teatro Terreno.
Aqui, eu sou o que sou. Interpreto a mim mesmo. Não consigo ser uma personagem.
A peça já está em seu 30° ato e eu ainda não aprendi a arte de fingir.
Alguns me dizem que eu devo me esforçar mais, porque só quem sabe mentir terá projeção
para ser um astro. Que falar a verdade não é mais tendência, não dá bilheteria.
Mal sabem que o sucesso que almejo é outro. Ou até sabem e fingem, por despeito.
Faço parte da companhia de teatro "Sou Quem Sou, Goste ou Não". Meu grupo não é
muito grande, mas seus integrantes não decepcionam em entrosamento, união e determinação.
Muitíssimas vezes essa obra da qual fazemos parte ganha contornos de drama.
Meu segredo nessas horas para um desempenho exemplar é não desanimar.
Às vezes ganha feições de comédia. Basta rir,
e com isso aumentar o número dos artistas na sua companhia.
Mas se não funcionar, não se desespere: é stand up comedy, ria de si mesmo.
E se a solidão transformar tudo num monólogo, lembre-se que,
ao nascer, você já levou uma palmadinha.
E pior, que, na ocasião, você estava nu(a), com frio e de ponta cabeça.
A solidão pode ser boa, dessa forma o palco é só seu pra usá-lo.
E se a solidão te trouxer tristeza, não deixe que esta transpareça a
quem te quer ver fora da peça. Amigos são pra essas coisas.
O gênero da peça da vida muda constantemente. 
Adapte as mudanças sem perder a sua essência, a sua verdade.
Nessa peça eu não consigo desempenhar uma personagem. 
Sou Amon Almeida Affonso interpretando a mim mesmo. 
Não me arrependo de não ter o estrelato, não quero apareçer. Não o quero.
Sou quem eu sou. Às vezes, nem eu me entendo.
Tente me entender ...ou não.
Porém prefiro seguir assim no palco da vida. 
E assim será até que as cortinas se fechem. 
Até que ascendam as luzes, eu serei eu mesmo no teatro terreno.

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