terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CORPO, ALMA E CORAÇÃO. Por Amon Affonso

O Mágico de Oz (coração)



Vivia num mundo distante chamado Oz um Homem de Lata. Destacava-se ele das demais criaturas de lá por não possuir um coração. Isso o fazia sentir-se vazio, descarregado e, como alguns diziam frio, sarcástico e auto-defensivo. O infeliz artefato humanóide versão 3.0 não era ruim. Costumava dar grandes conselhos para amigos e conhecidos, mas fechava-se em isolamento dentro de sua carapaça metálica com regular constância. Porém, num belo dia, chegara ao mundo de Oz uma amável e bela jovem de um mundo distante. Era conhecida por “Pequena L” e trazia consigo o seu pequeno cãozinho preto Borys, presente de uma inestimável amiga, dentre seus inúmeros e não menos inestimáveis amigos.


L e Homem de Lata conheceram-se nas proximidades do início da famosa estrada estrelada de tijolos pretos e prata. Tinha esse nome porque seus tijolos, quando vistos de longe lembravam a configuração de um céu noturno fervilhado por resplandecentes estrelas. Uma vez nessa estrada, eles conversavam sobre quase tudo. Depois de certo tempo, notaram que tinham muitas coisas em comum, mesmo sendo de mundos diferentes. L revelou ao seu companheiro de passeio que sentia muito medo de tudo, pois tudo ali lhe era novo, desconhecido e que, por isso, tinha medo de machucar-se no desconhecido, ou de machucar os outros seres ao seu redor.


Por sua vez, o Homem revelou a ela que sentia algo diferente quando estava com ela, apesar de não ter um coração. Era como se todos os seus circuitos esperassem desesperadamente encontrar um sentimento que até aquela data apenas pensara possuir: o amor. Como L tinha um coração amigável e quente, estava disposta a ajudá-lo. Lata contou que o único jeito de mudar essa complicada situação era encontrar o poderoso Mágico de Oz e que, para isso, teriam que seguir juntos pela tal estrada. Apesar de todo o medo de L por seguir aquele caminho desconhecido, Lata ofereceu-lhe o braço. Com receio e a muito custo decidiram ir adiante.


Apesar de não parecer, Lata também sentia medo do desconhecido, mas procurava não demonstrá-lo e, assim, deixar sua Pequena L ainda mais insegura. Depois de algum tempo, parecia que Lata e L possuíam um só coração. A estrelada rota era cheia de perigos e tristezas, contudo quando um dos dois perdia o ânimo para seguirem juntos, o outro o incentivava. Em suma, descobriram que colecionavam dias cada vez mais felizes dentro da rota. E assim chegaram ao castelo de Oz. Ansioso pelo tal coração, Lata chateou-se quando o Mágico disse-lhe que não podia criar um coração para ele. Sua tristeza, entretanto, fora logo abafada. O mago leu seu misterioso livro de encantamentos e com gestos mágicos aproximou a mão direita do coração de L, dizendo-lhes:


- Vocês agora dividem um só coração, pois eles são a feliz e bem-sucedida réplica um do outro. E depois da tortuosa, porém feliz, estrada da vida que estão atravessando, ninguém conseguirá os separar.



Alice no País das Maravilhas (alma)


Antes de começar a vos contar esta estória, devo fazer aqui uma significativa alteração no nome da sua protagonista. Apesar de Alice estar no título, tiremos o “l” que está entre o “a” e o “i” e transportemo-lo para o início do nome. Pronto. Agora basta que troquemos o “c” por um “z” e voilá! Pois agora que você sabe seu nome digo-lhe que certa feita ela fora tirada de seu mundo habitual para o Mundo das Maravilhas, que nem era tão maravilhoso assim mas que, tinha como regente o honesto Rei de Espadas. Apesar de ser honesto e bom, o rei possuía uma língua afiada como uma espada. Costumava dizer a verdade a todos os seus familiares e súditos, e por causa da tal língua afiada, às vezes magoava-os.


Pois a nossa bela protagonista de 19 anos (como no filme de Alice de Tim Burton, 2010) achava-se dentro desse mundo desconhecido e cheio de surpresas. Fora atraída pra lá depois que o coelho branco, por ordem do rei, causara-lhe surpresa por estar falando. Em face ao mundo novo, e uma vez dentro dele, ela bebeu uma pequena garrafa na qual estava escrito um bilhete com a palavra “beba-me”. Ela então encolheu. Mas isso de longe lhe causava estranheza. Parecia que ela costumava diminuir-se no seu próprio mundo, posto que sua auto-estima era baixa, como ela mesmo lembrava.


Ela, em sua jornada por esse mundo novo, encontrava as mais estranhas criaturas, coisas que nunca vira, situações completamente frescas em sua vida. Isso sim a deixava com receio daquele novo paradigma que vivenciava. Mas ainda assim, gostava do fato de estar sempre presenciando intermináveis surpresas. Por ordem do rei, que a essa altura encantou-se com o sorriso cativante da garota, seu séquito tinha a missão de guiá-la até ele. Ele sempre mandava mensagens a ela. Algumas diretas, outras através de suas fiéis criaturas. Após muitas trocas de informação descobriram que compartilhavam de uma alma gêmea. Tudo lhes era surpreendentemente similar, na forma de agir e pensar, nas preferências e gostos.


Então o honesto e bondoso rei confessou-lhe o amor. Ansiava unir-se a ela. Pois para ele, era a única que ele via como alma gêmea no seu país de surpresas e sonhos. Após ela revelar ao rei que ainda haveria que decidir se aceitava a sua proposta de um relacionamento mais formal, pedindo-lhe indefinido tempo, o rei, com certa tristeza, mas entendendo sua amada consentiu. Eles voltaram a se encontrar e a trocar palavras via magia. Apesar de toda saudade que sentia quando ela deixava seu país, o monarca não conseguia achar alento em mais nenhuma alma. Ele entendia e mantinha esperanças de que um dia ela iria completar suas metamorfoses e tornar-se uma bela borboleta. Ele divagava sozinho em seu castelo:


- Nós dividimos uma mesma alma. Quando ela acabar sua última transformação, será uma linda borboleta, como a Lagarta Azul o fizera. Nesse dia, nosso sorriso será ainda maior do que o do Gato de Chelshire.



Mitologia Clássica (corpo)


Na história mundial muitas são as mitologias conhecidas. Entre os diversos panteões que enriquecem nossa história, e que eram fé, antes do monoteísmo tornar-se popular, estão o egípcio e o grego. Do egípcio, Amon (isso mesmo, meu xará mitológico, hahaha) era o deus maior. Seu equivalente era Zeus no panteão grego ou olímpico. Eles continuariam em seus devidos panteões, sem interagirem entre si, até que...


Até que um dia, em uma viagem exploratória pelo mundo grego, Amon, o deus Sol egípcio, responsável por guiar os mortos para a sua morada eterna, transmutou-se num cavalo, para não atrair a atenção dos estrangeiros. De dentro do mundo de Hades, vislumbrou uma imagem divina. Ele avistara a deusa da caça grega. Não, seu nome não era Diana, como dizem os livros, era Lai. E Lai notara a presença do egípcio disfarçado. Atraído pela beleza sorridente de Lai, Amon aproximara-se meio que involuntariamente da deusa.


Assim que o viu, Lai chamou-o para perto de si. Como um cavalo selvagem, Amon deixou-se ser domado pela divindade. O deus sentia seu coração bater forte. Desejava-a. Desejava-a como jamais desejou nenhuma outra, seja deusa ou mortal. Deixou-se ser levado. Lai, com seu arco de caça partiu bosque adentro, ao encalço de alguns caçadores de borboletas, suas paixões. Ela protegeu-as com a sua rapidez de pensamentos e a sua destreza com a arma. Os homens foram dispersos por ela. Amon assistia a tudo aquilo passível de agir, de tentar safar-se de seus domínios. Sentia-se completamente atraído por aquela deusa.


De volta ao Egito, Amon contara tudo por que passara a seu irmão divino Ozires, o guardião do além. Tudo no mundo dos mortos costumava ser muito monótono. Ozires recebia os mortos e Amon guiava-nos para o seu descanso eterno. Contudo, o humor de Amon mudara, surpreendendo os demais deuses do deserto. Sua alegria levara o Nilo a transbordar com tantos peixes. A criação de caprinos aumentou tanto que seu povo não sentira fome. Isso sem contar os inúmeros oásis que brotavam inesperadamente das inóspitas areias do Saara.


Tudo aquilo tinha uma causa. A flecha de Lai acertara o seu coração. Se o deserto já era um lugar quente, com o novo e intenso calor no coração do deus Sol, tornavam-se escaldantes as instalações do mundo além. Vendo toda aquela situação, Ozires perguntou-lhe qual o motivo de tudo. Amon respondeu a verdade. Sentia um grande amor, seguido de um desejo quase que incontrolável pela atlética deusa olímpica. Mesmo não aprovando aquilo, uma vez que Amon deveria casar-se com a deusa Ísis, Ozires sugeriu-lhe um plano.


De acordo com Ozires, Amon deveria presenteá-la, fazer-lhe um agrado. Isso poderia surpreendê-la, segundo o guardião. Amon não pensara duas vezes. Coletou todas as borboletas do Egito, depois Hermes, o mensageiro dos ventos, o havia informado serem uma das paixões da deusa, como o próprio Amon presenciara também na ocasião da caçada. Coletou também cavalos mais belos e fortes que os do faraó e decidiu então enviar todos eles à Grécia. Para que sobrevivessem à viagem, transformou borboletas em abutres e cavalos em camelos. Mas ele estava tão ansioso que nem cancelou o feitiço depois que os animais aportaram.


Mesmo sob uma lua cheia que diminuía a visão de qualquer caçador, Lai conseguia acertar de longe aqueles animais estranhos ao seu mundo. Nunca avistara abutres ou camelos. Em questão de duas horas de caçada, matou muitos indivíduos. Amon, desesperado, seguiu imediatamente para a Grécia, alertando a deusa sobre o engano. Lai encantou-se com suas borboletas e cavalos e explicou ao egípcio que tinha medo do desconhecido. Depois que o deus confessou seu amor e seu desejo por Lai, ela surpreendeu-se. Perguntou-se por que ele sentira aqui justo por ela, e não por Atena ou Ísis, as quais ela achava bem mais belas. Amon buscou palavras de dentro do seu caloroso coração e disse-lhe, antes que os dois unissem os dois panteões:


- Almejo ter você por inteira. Coração, alma e corpo. Pois é impossível separar um dos demais. O corpo é a presença de seu coração e alma. É isso que os torna tangíveis. De que adiantaria o Sol se não sentíssemos o seu calor na pele, afinal?



MORAL:


Apesar de serem estórias diferentes, a sintonia entre (1) coração, (2) alma e (3) corpo é essencial para o amor solidificar-se. Coração apenas é solidariedade. Alma apenas é cumplicidade. Corpo apenas é atração física. Quando estão em conjunto, coesos e indivisíveis, os três passam a ter um único nome: o sublime e verdadeiro Amor.

Dedicado a você mesma, que já está mudando a minha vida para melhor.

2 comentários:

  1. Cara, vc sabe conquistar uma mulher com as palavras viu....RSRRSR
    Brincadeira, vc sabe mesmo colocar seus sentimentos pelas as palavras....
    Vc tem muita sorte viu Amon....
    Conquistou uma grande princesa...
    Parabéns.....

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  2. Ohhh!!! não me canso de ler rsrsrsrs
    Que inspiração hein?!
    Que continue assim... para todo o sempre!!!!!!

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